A SELEÇÃO DE 1970
Autor: Branco Melatti
Os maiores problemas do esporte geralmente estão relacionados à imprensa. Existem pessoas que são hábeis em desfazer o que os outros fizeram. A maior parte dos jornalistas e comentaristas esportivos ganha a vida fazendo comentários a respeito de atletas, treinadores e clubes. É muito fácil falar, ainda mais quando os fatos já aconteceram, quando o jogo terminou. O difícil é fazer, colocar as coisas em prática.
E esse tipo de situação é muito comum no futebol. É aquela turma de corneteiros que fica dando palpite de fora, chamando o treinador de burro, tentando estragar a carreira de um jogador ou fabricando boatos que denigrem a imagem do clube.
Um fato semelhante aconteceu na história do Esporte Clube Cobra Preta, justamente no ano de 1970, quando a seleção brasileira sagrou-se tricampeã mundial, reafirmando o futebol-arte que havia deslumbrado os olhos do mundo nas copas de 58 e 62.
Naquele ano, como o Cobra Preta estava há 3 anos sem ganhar o campeonato amador de Getúlio Vargas, o treinador Ataliba Flores vinha sendo duramente criticado por meia dúzia de corneteiros, que ainda por cima se diziam simpatizantes do time.
Alguns linguarudos o acusavam de não entender de esquema tático, de ser contrário ao futebol-arte característico do jogador brasileiro e de só colocar pernas-de-pau para jogar no time do Cobra Preta.
Outros palpiteiros diziam que ele deveria ser polêmico como o João Saldanha e ousado como o Zagallo, que haviam formado aquela seleção campeã do mundo, colocando vários camisas 10 no mesmo time: Pelé, Rivelino, Tostão e Jairzinho, que antes da copa jogavam na posição de meia-esquerda nos seus clubes.
Depois de muito pensar, o Ataliba resolveu calar a boca dos críticos. Montou uma seleção. E fez isso silenciosamente, bem ao seu estilo: com calma, inteligência e sem fazer bravatas.
Ele sabia que naquela época os grandes times amadores de Getúlio Vargas eram patrocinados pela Cervejaria Serramalte e Curtume Riograndense, que sempre serviam de base para o Taguá.
Prevendo que o Taguá não disputaria nenhum campeonato no segundo semestre daquele ano, o Ataliba se adiantou aos outros times da cidade, convidando vários atletas profissionais do Taguá. Convocou o goleiro Queno, os laterais Caíto e Olavo, os zagueiros Adelci e Luizinho e os atacantes Nenê, Nédio e Tuto. E mesclou com os jogadores do Cobra Preta.
E para reger essa orquestra, chamou o maestro Danilo.
A SELEÇÃO DO COBRA PRETA DE 1970 conquistou o campeonato amador de Getúlio Vargas, dando espetáculos, jogando um futebol de alta categoria, um futebol-arte.
Na semana seguinte ao título, os mesmos que tinham criticado estavam querendo derrubar o Constâncio Gutierrez e colocar o Ataliba como treinador do Taguá…
TIME CAMPEÃO AMADOR DE 1970
(foto do acervo pessoal de Nédio Vani, disponível em www.bolichodogauderio.com)