O MESTRE ATALIBA

 

Autor: Paulo Roberto Dalacorte

“Não há mestre que não possa ser aluno” – Baltasar

Sábado chuvoso e escurecendo cedo. O Grêmio, neste momento, classificado para disputar a Libertadores do próximo ano, juntamente com o Inter. Vamos lentamente terminando mais um dia de futebol no Fuxicão Lanches. Melancólico dia, diga-se de passagem. Nem das discussões que sempre acontecem após o jogo eu participei. Triste e cabisbaixo fui me recolhendo mais cedo ao lar.

Sentei-me defronte ao computador e resolvi escrever algumas frases em homenagem a um incentivador do futebol local. Este 18 de novembro de 2006 deixará uma lacuna aos desportistas da região e amigos pessoais do Ataliba Flores. O Mestre como costumávamos chamá-lo, partiu. Filho de Seu Octaviano e Dona Alice, nasceu em Getulio Vargas no ano de 1937. Foi casado com Leonilda Morilos, “a Meca”, como ele a chamava. Teve três filhos: a Rosana, o Flávio e a Fernanda.

Sempre ligado a nossa família, foi na antiga Oficina de Altares dos Irmãos Dalacorte, localizada na Alexandre Bramatti, nº 959, que o Ataliba fez sua vida profissional como marceneiro, onde inclusive se aposentou. Deixou espalhados pela cidade muitos móveis construídos e reformados por ele naquele local. No papel e no projeto, que eu saiba, ficou apenas um pequeno altar. Sonho dele e de meu pai, para doarem a alguma capela local e se lembrarem dos velhos e bons tempos da fábrica de altares.

A última imagem e fala que guardarei do Ataliba me reporta ao mês de abril de 2003. Esteve em uma reunião do Instituto Histórico e Geográfico de Getúlio Vargas, a convite de sua prima Lisolete Farias Stawinski. Na ocasião gravou uma entrevista para o projeto Memória Oral Getuliense. Os interessados podem ouvi-la no IHGGV, onde se encontra disponível. Consciente, e por fim emocionado, narrou sua trajetória de vida. Falou da sua infância, da juventude, seu trabalho, sua família e a agremiação pela qual tinha tanto carinho: o Esporte Clube Cobra Preta.

Entidade que, justa e merecidamente, colocou o seu nome como de Patrono do Clube, quando ainda em vida, porque a imagem do Esporte Clube Cobra Preta se associa com a do Ataliba Flores. Grande parte do prestígio, das conquistas municipais e regionais alcançadas pelo Clube se deve à dedicação, à perseverança e ao trabalho pessoal dele. O “cabeção”, como carinhosamente o chamávamos, foi jogador, treinador, presidente e, nas horas vagas, ainda atuava como massagista de seus atletas lesionados. Costumava dizer seguidamente a sua esposa, segundo palavras dela: “Meca, minha primeira paixão foi e sempre será o Cobra Preta”.

E, com seu clube do coração teve inúmeras alegrias e façanhas. Provavelmente, neste momento esteja contando alguma delas nas fronteiras do Além. Ou talvez, iniciando novamente como aluno. Para, adiante, depois de conhecido o “campinho”, planejar um Cobra Preta com atletas anjos, no jardim do Éden.

Enfim, cansado, vou recostar minha cabeça no travesseiro e dormir. Mas antes, quando deitar, lembrarei que a cama onde durmo foi obra do Mestre Ataliba Flores.