O TATIQUÊS NO FUTEBOL
Autores: Branco e Beto Melatti
Tempos atrás Cláudio Coutinho introduziu na linguagem do futebol termos como “overlapping e ponto futuro”, enquanto que o Lazaroni tentava explicar o que era “treinamento invisível e formatação”. Quem acompanha hoje o noticiário esportivo e os comentários dos analistas de futebol sabe que, nos últimos anos, os técnicos passaram a argumentar com frequência o fato dos jogadores não entenderem o que foi pedido para que eles fizessem durante o jogo. Muitas vezes isso acontece quando o time não joga nada e acaba perdendo a partida.
Recentemente, os técnicos do Grêmio e do Flamengo usaram essa estratégia para explicar os maus resultados das suas equipes. É muito difícil saber quem está certo. Se foram os jogadores que não entenderam a mensagem ou se foi o treinador que não conseguiu explicar corretamente a sua proposta tática. Mas o que realmente existe, e se confirma nas entrevistas pós-jogos é uma linguagem rebuscada, um palavreado esquisito que não combina com a simplicidade e com a linguagem popular dos torcedores do futebol brasileiro.
Acredito que muita gente tem dificuldades em entender o que o técnico da seleção brasileira quer dizer com “extremos desequilibrantes”. Para entender isso, é necessário fazer pesquisas e estudos. Não seria mais fácil ele esclarecer que são “pontas dribladores”? Ou então apenas dizer: “fazer jogadas como o Tuto e Nédio faziam no Taguá”?
Mas não é apenas o técnico da seleção que usa esse tatiquês, muitos outros treinadores, jovens ou experientes, tem se utilizado desse repertório exagerado. Será que é para debater com os teóricos do futebol, provocar a imprensa ou confundir os torcedores?
Digo isso porque fica difícil compreender tal vocabulário. Termos como “amplitude, jogo reativo, box-to-box, transição, performance, ritmista, quebrar linhas, gesto técnico, protagonista, pressão pós perda, terço final e uma infinidade de outras expressões que só confundem a cabeça dos torcedores.
Por exemplo, a expressão “pressão pós perda” significa que, quando um time perder a bola deve pressionar intensamente o setor do campo onde isso aconteceu, de modo a recuperar logo a pelota. Aqueles que conheceram o Constâncio Guterrez, lendário treinador do Taguá, sabem que ele usava apenas um jargão para fazer isso, gritando à beira do campo: “Chega junto, patrão!”
E quanto aos termos protagonista e ritmista? O que se pode deduzir?
Que jogador protagonista, é o que o maestro Danilo executava na meia cancha daquele baita time do Taguá, do final da década de 1960?
E ritmista, é o que o Adelci fazia no timaço do Cobra Preta de 1975, fazendo a equipe jogar de acordo com a sua categoria e liderança?
Pode ser que essa eloquência na intenção de se igualar a terminologia do futebol brasileiro aos níveis internacionais, eleve e aprimore o conhecimento dos treinadores, dirigentes, jornalistas e analistas esportivos. Mas, em se tratando de jogadores e torcedores brasileiros, é bem melhor ficarmos no feijão-com-arroz, tratando as coisas com singeleza e astúcia.
Daquele jeito singular que o treinador Ataliba José Flores, do Esporte Clube Cobra Preta, fazia quando o time estava jogando mal e levando um baile do adversário.
Ele não perdia tempo com discurso ou lero-lero. Apenas reunia os jogadores no intervalo da partida e sem meias palavras, soltava a sua máxima:
– “VÃO JOGAR, SEUS MURRINHAS…”